"Nosso tempo busca muito. Mas encontrou, antes de tudo, uma coisa: o conforto. Este avança, em toda a sua amplitude, inclusive pelo mundo das idéias, nos tornando tão acomodados como jamais poderíamos supor. Entende-se hoje, melhor que nunca, como tornar a vida agradável. Resolvem-se problemas de modo a desembaraçar-se de um inconveniente. Mas, como se resolvem? E, sobretudo, acredita-se tê-los por resolvidos! Nisso se mostra, da forma mais clara, qual é o presuposto da comodidade: a superficialidade. Assim é muito fácil possuir uma "concepção de mundo" quando se considera digno de apreço somente o que parece ser agradável, sendo o restante, indigno de quaisquer olhadelas. O restante, ou seja, o essencial: aquilo, que permite concluir que tais "concepções de mundo" adaptam-se, com efeito, a seus sustentadores, mas que os motivos constituintes delas nascem, sobretudo, do empenho por se desculparem. É, pois, um cômico proceder: os homens de nosso tempo, que estabelecem novas leis morais ou, melhor ainda, que dão por terra com as antigas, não podem viver com a idéia de culpa! O conforto, porém, não almeja autodisciplinar-se; e assim, ou rejeita a culpa ou a eleva à virtude. Para aquele que enxerga mais além, isto significa o reconhecimento da culpa como culpa. O pensador que, no entanto, busca, realiza o oposto. Mostra que existem problemas e que não estão resolvidos. (...)"
SCHOENBERG, Arnold. "Harmonia", 1911.
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