"Da coisa à imagem, o caminho nunca é reto, como creem os empiristas e como queiram os enunciados do verdadeiro fotográfico. Se a captação requer um confronto entre o operador e a coisa, no decorrer do qual esta vai imprimir-se na matéria sensível, nem por isso a coisa e a imagem se situam em uma relação bipolar de sentido único. Entre a coisa e a imagem, os fluxos não seguem a trajetória da luz, mas dirigem-se a sentidos múltiplos. A imagem é tanto a impressão (física) da coisa como o produto (técnico) do dispositivo, e o efeito (estético) do processo fotográfico. Ao invés de estarem separadas por um 'corte semiótico' radical, a imagem e a coisa estão ligadas por uma série de transformações. A imagem constrói-se no decorrer de uma sucessão estabelecida de etapas (o ponto de vista, o enquadramento, a tomada, o negativo, a tiragem, etc.), através de um conjunto de códigos de tradição empírica: códigos ópticos (a perspectiva), códigos técnicos (inscritos nos produtos e nos aparelhos), códigos estéticos (o plano e os enquadramentos, o ponto de vista , a luz, etc.), códigos ideológicos, etc. Muitas sinuosidades que vêm pertubar as premissas tão sumárias dos enunciados do verdadeiro fotográfico."
Rouillé, André. A fotografia - entre documento e arte contemporânea. Tradução de Constancia Egrejas. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009. p. 79
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