terça-feira, 8 de setembro de 2015

Solução

" 'Para inventar ou encontrar uma solução, é preciso se engajar completamente, de corpo e alma, com toda minha subjetividade. E, por meio dessa resistência frente ao fracasso, acabarei tendo a intuição da solução. Mas, deve-se sublinhar, a intuição nasce da intimidade com a tarefa, com a matéria, com o objeto técnico, que resistem. É preciso fracassar, resistir, recomeçar, fracassar de novo, persistir, voltar ao trabalho e, em determinado momento, surge uma ideia, uma solução, que é fruto do fracasso, da familiarização com ele. A solução vem da capacidade de resistir ao fracasso, isto é, da capacidade de sofrer.' Mas '[...] o sofrimento não é somente a consequência contingente e lamentável do trabalho. O sofrimento é, ao contrário, o que move o sujeito que trabalha a buscar a solução para se libertar desse sofrimento que o aflige. Poderíamos mostrar que o sofrimento é também o modo fundamental pelo qual se constitui esse conhecimento extraordinário do real, o conhecimento íntimo que é também um conhecimento pelo corpo. É o corpo que toca o mundo e a resistência que se opõe à nossa técnica. E é desse conhecimento pelo corpo que emana, em determinado momento, a ideia, a intuição do caminho que permitirá contornar o real e superá-lo.
      Poderíamos mostrar também que essa resistência à luta com o real conduz por fim a um deslocamento de si. É preciso alterar a própria relação com o trabalho para encontrar a solução, de maneira que, no fim das contas, trabalhar nunca é somente produzir, mas é também transformar a si próprio.' "




Christophe Dejours, Entre o desespero e a esperança: como reencantar o trabalho?, p. 51 citado por Adriana Castilho Bento, fazeres em transformação: reflexões sobre as práticas artísticas e pedagógica, (Trabalho de conclusão de curso de Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas apresentado ao Departamento de Artes Plásticas da ECA-USP. Orientação Profª Drª Sumaya Mattar Moraes e co-orientação do Profº Drº Marco Francesco Buti, 2009) p. 81 e 82.

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